sábado, 24 de outubro de 2009

Elogio à Guiné

ELOGIO À GUINÉ.


Óh, vós, Santa-Preta-Estrelada da infinidade cósmica! Já carregastes vossa lua nos pés quando por caridade pedimos uma claridade mórfica que nos permitisse a noite. Bem sabes que nesses tempos, quando muito aberta a iris dessa luz, nós festejamos vossas aberturas e queimamos.

Santa das constelações, sobrevivente dos dilúvios, e das nuvens. Em vossa morada no alto dos imbondeiros, das ramagens pálidas, dos tempos de estiu... vós reclamas de fraquesa, e eis que te digo adorando: Céu dos viventes de todas as terras, por conhecerdes das forças que em contrários dialogam, vós sois uma fortaleza mutável e vaga... Cheia de nada. Uma maré de éter.

Santa dos opostos, dos contrários, dos casamentos álmicos. Deusa virgem do carvão, esse que unido a óleo de bicho serve para anoitecer nosso corpo num dia de brincar sagrado. Mãe das cinzas, mãe das so(m)bras, mãe da morte. Mãe mão leve das sortes. Deusa-filha-negra da madureza e da passagem, do renascimento eterno, que trôpega madrugada traz no bico nossas criançãs coloridas, as gemas, as jóias. Vossas crianças de pedra. Óh mãe! Teus devotos te comemoram, tanto nas horas que apareces cuidando, quanto nas borrascas claras do tempo em conflito.

Pois, quando produzimos os vinhos do milho, bebemos dele em homenagem a vós, e quando chupamos os tamarindos, quando amamos, quando engravidamos – imaginamos a comunhão dos gostos e dos punhados em nossa-vossa língua.

Mãe velha e vasta, dos pigmentos e dos azuis. Barca condensada das carências de terra inteira.



Livro de Ananias -cap V

versiculo XIIV