domingo, 4 de agosto de 2013

tortuguita

cada uma pessoa que mora
espécie rara no corpo
lembrança viva se povoa o corpo
cada pessoa que funde casco
finda divisão e fica corpo
no sutil misturado corpo
plena amizade de tempo
finda morte e se infinita
alma mora na distância do piauí
junto do encontro amplo
distância sempre distrai
e o querer vira um detalhe besta
com cara de tortuguita marrom
e o bem querer, detalhe bom
é desapego secular
com cara de idoso zen

quarta-feira, 31 de julho de 2013

oração do cotidiano



Paz do cotidiano, me acha
Amor do cotidiano, me toma
Coragem do cotidiano, me acorda
Solidariedade do cotidiano, me ensina
Arte do cotidiano, me apropria
Salmo do cotidiano, me liberta
Verdade do cotidiano, me irrompe
Selva do cotidiano, me fortalece
Semente do tempo, me renasce

sábado, 27 de julho de 2013

amor

a quem recorrer?!...
pensei em matar, pensei em pular, pensei em morrer
pensamento é só, pensamento
no tempo pendular, uma ansiedade de ser, algo
coisa

calma, mira, calma..
calma o que?!
calma falha desalma

corpo me desperte
raio de raiva
ilusão de medo

caminha, corre, varre, morre
descarga escorre
amor socorre

informe

lambeu um doce e viu o inferno
nem sabia quão era beata
tava longe da ciência
da mata

tomou um banho de água doce
nas águas da cidade grande
e no meio da poluição
estética

ficou louca

era crente, era descrente
e no fim não era
nada


à muitas eras apegada
e o aqui agora do seu povo
acudia


estado de choque acordava
guiné elétrica da noite


e a celpe terceirizada
usava uniforme

quarta-feira, 24 de julho de 2013

oração de parto e renascimento

hoje tá sendo um dia cotidianamente excêntrico em que conexões cósmicas e sincronicidades ancestrais estão se materializando. peço a benção a vocês Comadres, à Lua cheia que despontará aqui mais tarde, já anunciada certamente no outro hemisfério. hoje é dia de nascença, minhas mortes já anunciadas estão transcendendo em renascimento, em religação para as próximas que se esparramarão pelo chão dessa jornada. peço a benção à Nossa Senhora do Carmo, linda Oxum das águas doces, pois agora é seu tempo; às águas do inconsciente que nos mostram à palo seco nossos universos; aos Exús, pelos tempos de mudança que teremos pela frente e que se lançam a partir do mês de agosto; aos cães e cachorros que guardam o mundo dos mortos e guiam os espíritos pelo submundo, sendo a lealdade, o amor incondicional; às panteras, pelo mistério, sensualidade e segurança de si. a benção a Omolú, orixá da morte e dos enfermos, onde estão contidas todas as doenças e suas respectivas curas; à Juno, guardiã das parteiras e gestantes; ao ato de respirar que representa a possibilidade constante de renovação, ao Tao da vida enfim.
mentalizemos o que foi semeado e que agora aflora, nesse presente, germinando. abençoemos o que nasce, acreditemos em nossas sabedorias, alimentemos nossos interiores para aprimorar a intuição. agradeçamos ao que acontece e faz com que nossos ciclos aconteçam, aos ventos mais uma vez. agradeçamos à possibilidade que se cria a cada dia de já não saber mentir. acocoremo-nos pedindo a benção às nossas cablocas, fortalecendo nossos ventres, fontes físicas de nossa fertilidade.
o abismo está sempre a nossa frente, resguardando o novo, inócuo ovo chocado pelas nossas qualidades de galinha. o ovo quebra, e acima do pescoço a cabeça, a cabeça trará coisas boas. jubilemos.

com amor
Ceci

#Cecília é cientista social e estuda o ofício da doula <3 br="">

http://pt.wikipedia.org/wiki/Doula

sábado, 4 de maio de 2013

Zu


Poema pra Mãe Zuleide


Quem vai, parece que fica mais
Responsabilidade que vem
No peito de quem ficou
Do amor que quem foi legou
No peito de quem está

Quem vai que plantou demais
Deixa florestas e vales
Cheias de flores astrais

Quem semeou como ela
Com grandes asas revoa
Imensa sacerdotisa
Que nosso peito povoa

Cheguei como por chamado
Para ser sua vizinha
Canto santo, abençoado
Onde a filha se aninha

Teu amor de luz reflete
Cada filho que chegou
na estrela que luziu
na verdade que encontrou

Agora a luz vai lá longe
numa outra dimensão
uma conferência além
nos ares da imensidão

Vai filha de Ogum, de Oyá,
filha de deus, encontrar
no infinito os mestres seus
e outras mães, encontrar
e por nós, de lá, olhar
retrabalhando esse adeus

A família que me deste
dessa umbanda sagrada
tua família sanguínea
também por mim é amada

Ô, mãe tão admirada
Por a gente tão querida
Só foi porque foi chamada
Pois gostava dessa vida.

terça-feira, 30 de abril de 2013

tempo da avestruz



chegou novamente o tempo da avestruz
enfiar a cara num buraco escuro
e ser fêmea cinza
nuvem pluma cinza
na diluição do preto macho

montaria humana
profundo do insuspeito
nublada de pégaso
boca buraco e peito

chegou o tempo da ave tonta
carne pesada pronta
que na terra se distrai

pardal-camêlo, do grego
misturada ave equestre
chegou a hora e o tempo
do voo cego e silvestre

chegou o tempo da avestruz
travesti cinza madura
pegar a esquina dura
e ciganar no sinal

voar como fosse nuvem

chegou o tempo cinza da avestruz
e na cinza ela revela o tempo