segunda-feira, 17 de novembro de 2008

'pensando a dimenção do lundu'.

queridos brasileiros,

tudo bom? quem escreve é raphael, o gringo, de santarém, pará. d'aqui a algumas horas, pego um barco para boím, uma vila de 150 famílias no alto tapajós. tem um grupo de teatro lá procurando um diretor...então, lá vou eu. a idéia agora é ficar para construir um ato de natal...porém, pretendo estar de volta em santarém por alguns dias em dezembro, para editar alguns artigos, etc et tal.

jurei pra varias pessoas aqui no brasil que esse ano, eu não me importaria mais com a eleição lá nos eua. mas acabei acompanhando de perto, e torcendo forte para o obama. nesse tempo todo, cheguei em pensar muito em que ele representaria no mundo, mas fiquei tão destraído - e tão desesperado com a possibilidade de ter uma presidente chamada sarah palin, que teria sido até pior do que o bush - que nem considerei o que significária para mim.

alguns dias antes da eleição, porém, já dava pra ter uma idéia. primeiro, porque a primeira questão que todo mundo faz para um norte-americano assumido no brasil (pois tem varias fazendo de conta de ser canadenses ou inglêses), desde a primeira vez que eu passei por aqui em 2002, sempre era "mas...você votou em bush?" até que, há uma semana atrás, no máximo, passou a ser "você votou em quem? votou naquele moreno? votou em obama?" já é um alívio enorme poder responder afirmar que votei no cara mais legal, em vez de não ter votado no facista.

sei muito bem que, pra chegar até esse ponto, o barack hussein já deveria ter vendido a alma varias vezes. por enquanto, estou resolvido a passar uma semana para só curtir a vítoria, depois volto a criticar-lo furiosamente. mas porra...que vítoria, né? os eua um presidente chamado "george walker" que mal sabe escrever o próprio nome. agora, temos um cara chamado "barack hussein" que pelo menos fala muito bem.

uma amiga minha que mora em boston, minha terra natal - e bastante conhecida como uma das cidades racistas do nordeste de lá - falou que, nessa quarta-feira, ela começou a cantar "we shall overcome", o hino do movimento negro do martin luther king, jr., num elevador junto com monte de gente desconhecida. na noite da eleição, não consegui falar com meu pai - velho progressista e apoiador de causas infelizmente perdidos - porque ele estava chorando de tanta felicidade. disse que, nos 60 anos que ele tem, ele nunca tinha visto um candidato igual, em quem ele realmente acreditava. uma amiga minha - poeta, lésbica, imigrante do haíti - disse que ela nunca sentiu tão orgulhoso de fazer parte dos estados unidos. é impressionante.

sei que eu vou chegar muito ficar decepcionado com ele. sei que, mesmo se ele quisesse, não daria para deconstruir séculos de tanta violência imperial. mas a possibilidade de ver um presidente inteligente, jovem, pensador, e sim, negro me emociona muito. a possibilidade que os estados unidos poderia até participar num dialogo internacional, de que a gente poderia ser um "bom vizinho" no ato, em vez do que na fala. que a gente poderia chegar a ser um país humilde, um país que atua com - em vez de contra - o mundo. o meu sonho é ver evo morales sendo recebido com um grande churrasco na gramada da casa branco. sei que não vai rolar. mas, por enquanto, estou sonhando muito mais levemente do que antes.

espero que esteja tudo ótimo com vocês...já na volta do alto tapajós, a gente se fala.

um grande abraço,
raphi

ps: fiquei super emocionado assistindo a eleição, mas só cheguei a chorar mesmo no dia seguinte, ouvindo "apesar de você." porra, cara...o chico acertou na mosca. imaginei cantando para a cara do bush...

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Todo mundo tem o direito de viver cantando.
- Cartola


Rafhi "o gringo que fala" é, gringo, poeta, repentista, educador e amigo... etc.8

carta aos orientadores.

Caros orientadores do estágio,

Acabei somatizando umas coisas, e fiquei doente... Gostaria muito de
ter correspondido as espectativas em geral.
Acabei tambem parando de ir na faculdade, de atender telefone, de ver email e de comer... Agora já tou um pouco melhor, e por isso tou escrevendo...
Minha tia com quem moro ficou preocupada e tá me pagando uma psicologa que me passou uns florais pra coragem, e sei mais lá o que... não sei se pelos florais, mas tenho estado melhor.

Tive uma criação muito anárquica e percebo que temo muito os compromissos burocráticos, no entanto, quando eles têm rosto, o medo vira culpa e vergonha... de mim mesma no mais.

esses dias fui pegar um dinheiro da prefeitura e vi que tinha recebido
um dinheiro do CNPQ... me senti muito mal...

Gostaria muito de ter a compreenção de vocês nesse momento delicado...


sem mais querer prolongar,
peço desculpas.


ass: 'A Guiné da história'.