domingo, 12 de dezembro de 2021

ancestrais de escamas?

Serpenteando um eu profundo
As ancestrais gigantes me encontram
Renascer-me em cada fênix
Soltando os molambos
Muambas magicas pra enganar a morte
A tristeza do esquecimento

Mente que vagueia parece chegar

Os pés quase descalsos
De quem vibra em circundar abismos
Algo vivaz
Uma vontade de queimar
De ser cavalo livre

Onde, misteriosamente, as pedras
resgardam um cão sem plumas
Animal tão misto
Quase sagrado
Na pureza e sorte dos loucos, do encantados
Na experiência dos que comeram pedras
Pra ajudar a digerir os olhos
enviesados da civilização

Deus hoje proteje os que sonham?
Exu tamborila aboios
No latão do meio fio
Virando fumaça
Nas encruzilhadas

Ei os de amor

Algo de bonito
nesse passarinho dinossauro
Acheopterix da matriz
Os simulacros rasos, raros
"Da simultaneidade de mundos"
Com diria mãe Aparecida de Oxum

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

chuva chamamento

Uma vez eu senti um chamamento
Era a chuva
parecia ouvir meu nome nas telhas
Descendo pelo metal das grades
Escorrendo na relva
Sugada pela terra

Tempos alucinados em que me ouvia na chuva
Em que a chuva falava na voz dos demônios
Em que os espíritos me acordavam no meio da noite
Na voz dos parentes, na voz dos mortos

A voz da chuva chia como um miado de areia
Quando nos permitimos a paz molhada
e os escombros não nos ferem a alma
rasgando o  linho

Ainda existe voz na chama
da voz amarela de Oxum
Tilintando os latões das calhas
entre espelhos de Orixá

Arrasta as folhas,
Abre sulcos
Lava

É mestra em amolecer durezas
penetrar certezas
Esborrar represas

É na voz da chuva
Que a sabedoria goteja
Fresquinha
No tempo morno
E evapora
Na sorte de um vôo

Suga pro centro da Terra
Voa no calor do milagre

Na sabedoria da chuva
A planta se enlaça
É cipó

No mini mistério da fruta doce
Do dia magma
Na sabedoria da chuva
Que se faz  mormaço
Que mãe diz que adoece

Água que aquece
Peito morno vento

Chama calma, 
chuva e amento