segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Mar que se quer

Como quem não quer nada
O mar infiltra as construções
Em trêmulas contrações
Sua força

Janaína anuncia que chega
E silencia

Como quem não quer nada

Como quem nada quer
Nada onde está

O mar se aperta feito sardinha
Dentro de ventre se aninha
Na nave mãe

Como quem não quer nada
quer sair sozinho

Beber leite,
Tripular colo,
Aprender os planos
Caminhar solto

Como quem se quer

Rasgo

Rasgando...
Assim chegaram as crias
Uma, meticulosa,
quis que o rasgo fosse exato;
Outro, aberto,
Se sabia rasante.
Pleiteou um rasgo espontâneo.
Ambos me sangraram
Como sóis nas madrugadas
Ou luas novas em fins de tardes.
Sutis nem tanto
Serenos nem tanto,
Mas vindos da graça
das manhãs de Ñanderu.
Verde pedra no brilho do rio,
Neblina leve na areia do mar...
Cortando vento
As crias silveatres se chegam.
O vento nos guia
Em corpo terra
Casa curiosa de carinho
Corte, costura
e rasgo.