domingo, 24 de novembro de 2019
poema tetríco
segunda-feira, 23 de setembro de 2019
Corpo e sopro
Corpo
Sem sopro
Arremedo
Carne
Sem pulso
Será sossego?
Do descanso da morte
Se tem medo
Quem sabe
Se vai tarde
Ou cedo
Na vida e na morte
Há quem meta o dedo
E quem desvende seu segredo?
Entra no trem
E deixa um agrado
No mundo da vida
A ida é personagem
Veste a viagem
Essa túnica final
Pro mundo da morte
A gente se despe
De toda auto-imagem
E solta as mãos
Da pele animal
A despedida é Una com a vida
E despe a lida
De qualquer verdade
De qualquer mentira
Do corpo
Casca
Descasca
Que não é pedra
Que não é pau
Mas como se fosse fica
Corpo coisa sólida
O que era
Água viva
Corpo sem sopro
Vira escremento
boneco sem vento
que vence
E fede
Sobe o sopro
Fica o corpo
Tronco oco
A ida leva o sopro
Gás que escapa
E aqui fica a capa
Das venturas, dos desventos
Das ilusôes, dos inventos
Desvenda
Escapa
Corpo fica vendido
Só o tempo compra
Essa última valsa
sexta-feira, 19 de julho de 2019
Veias da Terra
Quase nos tiram nós
de nós mesmas.
Quase...
Investigo-nas,
nós mesmas.
Minhas velhas,
nas minhas veias
Quando nos fizeram rivais?
Quando nos fizemos rivais?
Umas das outras...
Panteras contra lobas,
onças versos raposas,
vacas versos touras...
Em que lua deixamos de lunar? Reconhecer nossas avós, bisavós, tataravos?...
Em que data longínqua essa voz primeiro nos faltou, e ecoa esse nó na gola,
de espartilho no ventre?...
Quando nos perdemos no caminho?
Será que nos perdemos?
Em quais gestos nosso pulsar permanece, essa potência, nossa alquimia?
Eramos Amor e dançaram-nos
entre brasas.
Nos fizeram duvidar de nosso fogo,
nosso brilho, nossa luz.
Quiseram destruir nossas conexões
Nos ataram, nos atearam fogo
e nos dissolveram
Como fumaça, pranto da terra
Subimos às nuvens e desabamos.
Fomos nuvens e caimos,
retornamos
Lavadas e lavando
Lavandas, capins santas
lanceadas, cheirosas, embebidos...
Embebemos a terra de nossa força, das nossas águas...
Cimo partes, gotas dela, nos sabiamos
Somamos, somos, milhares, mulheres da materia mineral, gemas apedrejadas da terra, soma da mãe
No magma fervente nos encontramos
Vaporosas, depois vivazes e viçosas ... Criamos sobre as águas novas terras. Apesar da nossa dor, criamos
No encontro, nossas metamorfoses nos mostravam vária, aspectos da mesma.
E infinitamente vamos renascendo, remanescendo...
E dando as mãos
E Cada vez que cada mão de encontro acolhe a outra, leva,
e leve a roda firme flutua
Gira redemoinho de água
e mulher moída move
E renova
Encontro santo, somos ela,
fêmea velha
Carnes, pelos, ossos,
A morta que sempre revive...
Seios, sêlos, elos, sangues.
Energia vermelha
que lava e adentra terra,
Rama, rio, veia.
Velha viva que nos remoça,
Sábia velha que nos encanta
E a cantamos assobios
Que nos faz sábias e sabiás
terça-feira, 16 de abril de 2019
Voz
No dia da voz
ensaiamos
muitas conversas
Experimentamos
olhares, gestos, gemidos
Balbúcias, risos,
tons sortidos,
Silabas, besouros,
cantos destemidos...
Na noite da voz,
Há voz
E na calada da noite
ela descansa
Entre os santos, sonhos,
meio mansa
O mar ondulante avança,
ululante remansa
no verso da criança...
barco, cria , dança
Mareja outr bom tempo
domingo, 14 de abril de 2019
Minha vida na feira livre
Há cada verso falso
Palavra chula
Devo silenciar
Não um silêncio falso
Não um silêncio chulo
Mas um silêncio inteiro
Mergulho
pela metade
Neste incômodo
refrão que algo liberta
quando observo
letra aberta
O conteúdo desendereça
A intenção desinteressa
O sentido devo observar
E respirar calada
a letra perdida
Me encontrar nela,
compreendê-la
Liberá-la,
não sê-la
Aquela
que incomoda
Na resignação verdadeira
Conversar com portas
Com miolos de pote
Com arvoredos
Com canecas de chá
Com crianças que ainda não falam
A linguagem normal nos limita
Com suas formas omissas
Com suas normas, premissas
Não houvesse palavra chula
Verso ralo, macho o ó
A vida era melhor
segunda-feira, 8 de abril de 2019
Balão Branco
Relógio parado
Maçã distraída
Despedaça aos dentes
Do pecado sem perigo
Tripula o tempo, transita
Potência decola sementes
Terra pouso abrigo
O que medra morre
Ao medrar escorre
Ao correr decorre
O trigo que intriga
E cala a boca rama
Que vaia Roma
Contrario engole amor
E o silêncio devora as transgenias
Ávida nua se desola
Faz a maça de bola
E degola
O branco balão do pensamento
domingo, 3 de março de 2019
Bicho
És bicho rasteiro
Na posição da serpente
De repente muda
E és barca graúda
Na proa do mar
És minúsculo grilo
Com visíveis músculos
Abanando os pés
No mesmo lugar
Em sono acordado
Serena e se enrama
Pra tudo que é lado
Passeia na cama
Preparando o nado
Feito fio de rio
Sonhando pelado
Sem sofrer o frio
Bicho que contempla
Calado levanta
Trotando besouro
Lábio, voz, garganta
Canta, ave santa
Sem sequer falar
Reza o som do "m"
De mamãe e mar
No entoar sereio
Ondas e tritões
Sons universais
Mil religiões
Grita outros refrões
Perseguindo esferas
Tem flores nos lábios
Sábios, primaveras