sexta-feira, 30 de outubro de 2009

peixa-palmeira

Peixa.
À Camila Santana

...ela é um mar
que na praia vai e vem
que entre os dedos some
que deixa nos dedos o sal.

é uma flor
flor amarelinha
flor mirando o sol
uma camomila.

é uma lua
uma loba nua
lobinha criança
mastigando a pedra

é areia fofa
que a gente deita
e inda dorme um sono
sob o céu da boca.

ela é um "peixão"
como diz o povo.

uma vênusinha
ela é maré.


28 de outubro de 2009
vázea.
anaíra mahin

terça-feira, 27 de outubro de 2009

nota de esclarecimento:

Não acho que a história de Eléctra tenha nada que ver com a história de Édipo... Foi besteira de Jung, e é porque gosto muito dele, quando levanta ao fenomeno da sincronicidade, mas, a estória de Édipo, é muito melhor que a de Eléctra, e isso não é inveja do falo, sr. Freud, é só que não quero ter complexo de Eléctra, quero uma estóriazinha melhor inventada, com cegueiras e etecéteras. Posso até mesclar tudo... mas meu complexo é de Édipo!


Guiné da Selva,
set, 2009.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

trexxo bíblico II

Oásis meu,

Muitos solstícios se passaram. Os guardo, todos.
Há um tempo arenoso, nos encontramos naquela esquina etérea. Expliquei-te do quarto crescente que nos habitava com um gesto longe. Eram naqueles momentos que os joelhos dos camelos podiam encostar a brancura quente e movediça do chão informe. Naquelas suspensões, em que se arriavam os pertences coloridos.

Lembro. Nas soltas tendas, as mulheres cuidavam em colorir os olhos, verdes -amendoados. Os olhos pretos. Eu te ofertei os dois que eu tinha. Comprastes logo. Mirando firme o meu mormaço que recebia a tua paga. Pagou na moeda mesma, e estrelada, doirada, solar. Osíris.
(Pensei... - É impressionante como as crianças não têm chorado por aqui). Um vento soprou o tecido que cobria tua barba...
Percebi as marcas nas tuas maças... Eram as tatuagens de teu povo.


Cap. X
Livro do Exodo...
As cartas e as matemáticas.

sábado, 24 de outubro de 2009

Elogio à Guiné

ELOGIO À GUINÉ.


Óh, vós, Santa-Preta-Estrelada da infinidade cósmica! Já carregastes vossa lua nos pés quando por caridade pedimos uma claridade mórfica que nos permitisse a noite. Bem sabes que nesses tempos, quando muito aberta a iris dessa luz, nós festejamos vossas aberturas e queimamos.

Santa das constelações, sobrevivente dos dilúvios, e das nuvens. Em vossa morada no alto dos imbondeiros, das ramagens pálidas, dos tempos de estiu... vós reclamas de fraquesa, e eis que te digo adorando: Céu dos viventes de todas as terras, por conhecerdes das forças que em contrários dialogam, vós sois uma fortaleza mutável e vaga... Cheia de nada. Uma maré de éter.

Santa dos opostos, dos contrários, dos casamentos álmicos. Deusa virgem do carvão, esse que unido a óleo de bicho serve para anoitecer nosso corpo num dia de brincar sagrado. Mãe das cinzas, mãe das so(m)bras, mãe da morte. Mãe mão leve das sortes. Deusa-filha-negra da madureza e da passagem, do renascimento eterno, que trôpega madrugada traz no bico nossas criançãs coloridas, as gemas, as jóias. Vossas crianças de pedra. Óh mãe! Teus devotos te comemoram, tanto nas horas que apareces cuidando, quanto nas borrascas claras do tempo em conflito.

Pois, quando produzimos os vinhos do milho, bebemos dele em homenagem a vós, e quando chupamos os tamarindos, quando amamos, quando engravidamos – imaginamos a comunhão dos gostos e dos punhados em nossa-vossa língua.

Mãe velha e vasta, dos pigmentos e dos azuis. Barca condensada das carências de terra inteira.



Livro de Ananias -cap V

versiculo XIIV

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

um mar de linguados trêmulos.

(aos 'nazistas' e 'narcisistas').


É comum que nós nos apaixonemos por nossos professores, pois, pelo ofício, já são aqueles que devem nos deixar imaginativos, quando assim o são - de verdade - é comum que nos apaixonemos.

Posso fazer uma retrospectiva e encontrar o começo,
mas Freud já disse:
“OS PAIS”! “O ÉDIPO”!

E Lacan já reexplicou:
“UM MAR”...

É a nossa imersão no mundo oceânico da linguagem.


Ainda, quanto às paixões, é comum nas sociedades um tal de ‘proíbibo-e-tabu’ que em muito conflita os nossos quereres.

Lídia, uma amiga minha, sonhou um dia desses que Freud era o pai dela... e aí ela encontrava ele, e começavam e se comer... as pessoas olhavam reprovando..., no começo ela se incomodava, mais depois ela transcendia... mandava todo mundo se fuder também.

Assim, é comum que vez ou outra, nós nos apaixonemos por pessoas que supostamente se distanciariam do padrão dos disponíveis e ou dos belos.

Portanto, é comum que nos apaixonemos: por pessoas comprometidas, por pessoas com filhos, por estrangeiros, por padres, por passarinhos, por bandidos, por sorrisos diferentes, por bocas sem lábios, por jovens velhotes, por moçoilas velhas, por densos silêncios, por sobrancelas coladas, por grandes narizes, por diadorins. Dependendo, no entanto, da configuração padronizadora da cultura de cada um em questão (é claro). Nesse sentido, faz-se necessário, para uma psicanálise-sócio-individual, que reflitamos a respeito desses possíveis esquemas de invento.

Ex:

O jovem Narciso peca ao entender a impossibilidade de amor entre ele e o jovem do lago - sendo, “o jovem do lago” = sua própria imagem em reflexão.
Nesse tipo de projeção Narciso deprecía sua existência ampla em detrimento de um fetiche extremo. E se entristece no desentendimento da possibilidade de experiênciação desse amor.


Guiné da Selva,
Recife, outubro de 2009.


Pensando que é comum que a gente queira brincar sério comos espelhos acabei de acha isso no dicionário internético (é o título de um livro que eu não li):

Alice no espelho
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Ir para:
navegação, pesquisa
Nota: Se procura o livro de
Lewis Carroll, consulte Through the Looking Glass.
Alice no Espelho é um
livro brasileiro de 2005 escrito por Laura Bergallo.
Foi premiado com o
Prêmio Jabuti de livro juvenil e selecionado para a 44ª Feira do Livro Infanto-Juvenil de Bolonha, na Itália.
[
editar] Resumo
Alice é uma adolescente cujo pai foi embora de casa quando ela ainda era pequena. Boas lembranças ficaram, entretanto. Como a leitura das obras de Lewis Carroll,
Alice no País das Maravilhas e Alice através do espelho, que o pai lia pra ela todas as noites antes de dormir.
Agora, aos 15 anos, sem entender a ausência do pai e obcecada por aparência e magreza, Alice acaba por contrair
anorexia e bulimia, chegando ao ponto de ser internada inconsciente.
Durante seu
coma, ela visita um mundo estranho, onde todas as pessoas são iguais e abrem mão de sua individualidade em nome de uma aparência padronizada, ditada pela sociedade. Aos 16 anos, todos passam pela "transformação", processo médico-cirúrgico supostamente voluntário que os torna cópias dos modelos considerados ideais de beleza.
Mas nesse mundo ela também se torna amiga de Ecila, garota gorda porém com opiniões firmes que, por influência de seu pai considerado louco, recusa se submeter à tão desejada "transformação". Para tentar ajudar a amiga, Alice acaba compreendendo que ela própria precisa procurar ajuda para se curar, embora reconheça que o processo é doloroso e difícil.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

especulando o nome

tenho pesquisado "ALmanaques populares sertanejos"
descobri que são "o juízo do ano".

sei - já faz tempo- que todas as palavras que têm "AL" são árabes...

o estado nordestino de ALagoas é um bom exemplo.

meu nome, minha mãe escolheu no sentido de ser eu uma tupizinha,

e de ananaíra ficou ANAIRA
Fiquei ananariando...

encontrouxe o espelho em ARIANA
- mas não curto purismo ariano...
ARIANO! em suma... Ainda tem esse, armorial, da Paraíba, o Suassuna...

sua suna...

ACABEI DE LER no dicionário da internet que "A palavra árabe Suna significa ‘caminho trilhado’, e logo, suna do profeta significa os caminhos trilhados pelo profeta, ou aquilo que é normalmente conhecido como Tradições do Profeta".

"Os sunitas (سنّة) formam o maior ramo do Islão, ao qual no ano de 2006 pertenciam 84%[1] do total dos muçulmanos. A maioria dos sunitas acredita que o nome deriva da palavra Suna (Sunna), que se refere aos preceitos estabelecidos no século VIII baseados nos ensinamentos de Maomé e dos quatro califas ortodoxos. Alguns afirmam, porém, que o termo deriva de uma palavra que significa "um caminho moderado", referindo-se à ideia de que o sunismo toma uma posição mais neutra do que aquelas que têm sido percebidas como mais extremadas, como é o caso dos xiitas e dos caridjitas".

tanta coisa...



Anaíra Mahin
2009, UFPE, outubro

eD

Ed tem uma rata branca que se chama nêga
ele faz teatro...
é um menino colorido.



guiné da selva
outubro de 2009, UFPE

quando os pinguins viram bodes

os traços transitam
quem pode perceber com olho clínico,
olho de quem desenha
de quem pinta

o espelho é a pele, e os ossos a moldura dura...
o gargarejo: as pernas grossas.

a tatuagem nova é de sangue e interna,

tem a ver com os processos biológicos, hormonais e santos

quando voltei a pensar já era tarde, e o corpo fez por mim o que não tive coragem
ele me disse pra esperar... perguntou se eu sabia esperar - em algum momento perguntou essa besteira, da boca pra dentro
e nunca mais tocou no assunto. ele não teve coragem. disse dane-se em silêncio.



guiné da selva
são paulo, julho de 2009
ossos do ofício

eu queria fazer uma canção
que falasse de minha angústia de não saber tocar violão
mas não consigo
não dá

outro dia escrevi um manifesto
elencando várias coisas que detesto
melhor calar

mas agora na estação
percebi como a moça que sorria era esguia - um mulherão
resolvi fazer uma operação, pra esticar a tíbia e o perônio
quem sabe desse jeito eu arranjo um matrimônio - já estão fazendo isso no Japão,
já tem tecnologia!

nada que eu pensasse evoluia
nada queu fissesse me preenchia

fui ficando triste, ai de mim... era tanta coisa ruim

meu trabalho em que devia ser feliz e lucrar ...
virou uma enxaqueca sem par...
e inda perdi o semestre da faculdade...
pra tudo fui ficando sem vontade...


mas eu queria fazer uma canção...
mas eu queria fazer uma canção...
mas eu queria fazer uma canção...



Guiné da Selva em parceria com Anaíra Mahin
são paulo/sp- julho de 2009

A avó


a avó.

a avó preta guardava numa lata circence seus pequenos prazeres. cigarros linhas tesouras, dinheiros soltos. era o banco do brasil. soltava as notas pretas a neta de afeto que ia feliz na budega de esquina comprar os confeitos e os dindins, os salgadinhos amarelos e as bolachas morenas. escondia os cabelos crespos em lenços azuis cotidianos, frizando os grampos. bilírios bonitos os olhos velhos dela, cegando. tatiava a casa. mas tinha muito orgulho para assumir qualquer cegueira. um dia tropeçou e caiu na rua, rejeitou na hora a ajuda de Maurício, o menino aprendiz que vinha ao lado ouvindo e atento. ela era a forte, a toura. tomava lapadinhas de cachaça ou licor antes do banho, julgando o frio. morreu eu tinha só 4 anos, só pode ter ficado grande na minha cabeça, é a lembrança que existe assim, uma mulher grande, uma avó de seios quentes de cozinhar, de ferver canjica, fria de mexer em água, em bacia, de lavar as caçarolas. lembro das unhas escuras limpas longas, de mulher vaidosa, compridas, largas. Carvão alfazema, um coentro aberto. o cheiro-verde, fumando. o travesseiro do braço dela, ela contava baixinho A festa no céu... apresentava aos meus sonhos o touro azul...

várzea, outubro de 2009.