Picadeiros
São tantos os moços jovens
Percorro como porca, fuçando...
Circulo. Minha vida, lama amálgama.
São tantos os rostos móveis
Persigo o que me incomoda e pulo
Contanto, há uma gama.
A faca tem os dois gumes
Engulo o sopro e não sobra
Falta o ar em altos cumes.
Encontro o cristo em cardumes
Nada e ri à grande obra
Respirando os vagalumes
E as cobras.
Olho o som, escuto os dentes
Sinto as acesas narinas
E aprendo a respirar presentes
Cavalos e bailarinas.
No espelho o palhaço
cola sobrancelhas
preto faz um traço
e o nariz espera as abelhas
Alerta vermelho!
Tudo por aqui caiu doente
A maca leva um macaco
Treinado em chapa quente
Na platéia, calabolsos
Picadeiro, carne e ossos
Monstros, mancos, e o leão
Brancos que são, novos moços,
Posturas, granas nos bolsos
complexos em pulsação.
Vim encontrar o Sr. Perdão!
Antes que o amor se ponha
como às noites se sonha
em sua forma tamanha
Pelo passo febril desta manhã
Quero a verdade medonha
A máscara sem vergonha
da noite senil e vã.
Quero essa flora hipnótica
Química beleza óptica
Quasimudos simulacros
Os meus sapatos de volta
Meus pés de pau, minhas cordas
Meus cachimbos, meus tabacos
Tranquilo, se estou um caco
Feito o macaco da maca
Feito treinado macaco
Tranquilo, se sou uma foca
Esperando o peixe à boca
A equilibrar bola ôca, ou faca
Tranquilo, se sou um bloco
sob as leis desta comarca
Tranquilo, se sou uma barca
Ou arca nas mãos do louco
Tranquilo, se ouço pouco
você é môco...
Sendo porca, dada aos porcos
Pata, pássara, cloaca
No picadeiro sem foco.
Guiné da Selvaladares
Set.2010. recife-várzea.