Era a chuva
parecia ouvir meu nome nas telhas
Descendo pelo metal das grades
Escorrendo na relva
Sugada pela terra
Tempos alucinados em que me ouvia na chuva
Em que a chuva falava na voz dos demônios
Em que os espíritos me acordavam no meio da noite
Na voz dos parentes, na voz dos mortos
A voz da chuva chia como um miado de areia
Quando nos permitimos a paz molhada
e os escombros não nos ferem a alma
rasgando o linho
Ainda existe voz na chama
da voz amarela de Oxum
Tilintando os latões das calhas
entre espelhos de Orixá
Arrasta as folhas,
Abre sulcos
Lava
É mestra em amolecer durezas
penetrar certezas
Esborrar represas
É na voz da chuva
Que a sabedoria goteja
Fresquinha
No tempo morno
E evapora
Na sorte de um vôo
Suga pro centro da Terra
Voa no calor do milagre
Na sabedoria da chuva
A planta se enlaça
É cipó
No mini mistério da fruta doce
Do dia magma
Na sabedoria da chuva
Que se faz mormaço
Que mãe diz que adoece
Água que aquece
Peito morno vento
Chama calma,
chuva e amento
Nenhum comentário:
Postar um comentário