quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A avó


a avó.

a avó preta guardava numa lata circence seus pequenos prazeres. cigarros linhas tesouras, dinheiros soltos. era o banco do brasil. soltava as notas pretas a neta de afeto que ia feliz na budega de esquina comprar os confeitos e os dindins, os salgadinhos amarelos e as bolachas morenas. escondia os cabelos crespos em lenços azuis cotidianos, frizando os grampos. bilírios bonitos os olhos velhos dela, cegando. tatiava a casa. mas tinha muito orgulho para assumir qualquer cegueira. um dia tropeçou e caiu na rua, rejeitou na hora a ajuda de Maurício, o menino aprendiz que vinha ao lado ouvindo e atento. ela era a forte, a toura. tomava lapadinhas de cachaça ou licor antes do banho, julgando o frio. morreu eu tinha só 4 anos, só pode ter ficado grande na minha cabeça, é a lembrança que existe assim, uma mulher grande, uma avó de seios quentes de cozinhar, de ferver canjica, fria de mexer em água, em bacia, de lavar as caçarolas. lembro das unhas escuras limpas longas, de mulher vaidosa, compridas, largas. Carvão alfazema, um coentro aberto. o cheiro-verde, fumando. o travesseiro do braço dela, ela contava baixinho A festa no céu... apresentava aos meus sonhos o touro azul...

várzea, outubro de 2009.

Nenhum comentário: