quinta-feira, 5 de junho de 2025
sedna
3 camelos
segunda-feira, 2 de outubro de 2023
Javali, javari, jauari
Javali, javari, jauari
Estava eu dentro daquela construção onde passei a infância no sertão, usina velha, lidava com algodão... Entre destroços, alvenaria antiga e uma selva erguida. De repente surge um javali grande, destes mágicos que falam e a gente entende. E depois de dizer uma porção de coisas sérias sobre vida, corpo, território, presença, destino; me desafiou na força. Olhou fixamente e veio até mim em carreira, abocanhou-me a orelha esquerda, babando os cabelos. E sabendo eu que era necessário estar imóvel, com perigo de partes contidas na boca do bicho, mágico, que me ensinava algo. Algo de sobrevivência e luta, e algo além. Algo sagrado, porem palpável, talvez não capaz de segurar. Algo vermelho terra, como um sopro quente além da raiz; algo ancestral da feitura das gentes de carne, essas que passamos a ser, e ao pouco também fomos esquecendo que somos.
Encontrei um rio e uma luta de cá, e um milagre na Índia. Aos poucos vou desvendando os símbolos que despertam quando durmo, que dormem quando desperto, que despertam.
Na casa de vó Regina, um portal, e vozes que aconteciam, vozes de bruxas antigas, como num rádio antigo pegando frequências mortas. - Não as escute, melhor você não fazer o que elas querem – eu temia esse desconhecido feminino que não podia ver ou ouvir, mais do que temia o Javali que me atacava.
Em outro ambiente grandes torres vazadas, pálidas, piramidais. Danças modernas, hipnóticas, vampirescas. Quis sair daquele lugar. Descia rapidamente as galerias, brancas, pálidas. Algo mediterrâneo. Aldo desértico. Propaganda de malboro. Pessoas alienadas, ou apenas festivas. Elas não sabem que logo serão mordidas, sugadas... tudo muito perigoso nessa região da mente do Arizona, Novo México, ou sertão.
sexta-feira, 10 de março de 2023
debando de bundas
terça-feira, 21 de fevereiro de 2023
cinza
terça-feira, 7 de junho de 2022
Marcolina
Kariri Xocó, Pipipã...
do povo das Macambiras
Avó véia, anciã
avó da minha avó Rita
Que resistiu nesse tempo
Raiz da terra da lua
Que minha mãe cultivou
Em mim a semente crua
Do povo da Macambira
Mãe vô veia, Marcolina
Vem de pedra colorida
De karuá, de imbira
Tintura de aroeira
Avó trisavavó guerreira
Inscrita na cacheira
Adorando uma palmeira
Acocorada à cadeira
Mãe veia, minha avó véia
Teu sangue na minha veia
Me deixa te encontrar
No ventre na lua cheia
Aqui, em qualquer lugar
Na minha mãe, na madeira
No trancados da esteira
Na rede, no balançar
No ato de amamentar
No milho bom de plantar
Nesse mês que mês de chuva
No tempo, no não lugar
E Pai Elói que é teu filho
Pai velho, meu bisavô
Me dê a benção de fogo
Meu avô véio, vovô
segunda-feira, 23 de maio de 2022
enfrentamento cordel
dentre os grupos oprimidos
a mulher tem um destaque
importante a ser sabido
são elas quem sofrem mais
e o intento desses Ais
precisa ser resolvido
Esses queixumes reais
são diversos e oportunos
uma luta com muitas frentes
com objetivos unos
promover a igualdade
respeito a diversidade
pra refazer esses rumos
As violências são muitas
que aqui vamos elencar
mas tem umas principais
que é importante citar
fiquem atentes, anotem
para poder recordar:
Física e psicológica
moral e sexual
também outra violência
é patrimonial
e todas essas porem
podem vir juntas também
são faces e um mesmo mal
A lei reconhece 5
dos tipos de violência
e encontrando essa lógica
dos que tem mais prevalência
aquelas que de tão drásticas
querem tirar nossa essência
Mas são muitas violências
é diverso o patamar
tem alguma que cês lembram,
para poder elencar?...
Eu me recordo de uma
que é importante citar
A violência política
vemos muito por aí
mulheres que são eleitas
muitos buscando impedir
vejam Dilma, Marielle...
o que sofreram na pele
difícil de engolir
Essas violências todas
não são casos isolados
infelizmente esses casos
são cotidianizados
pela cultura machista
e o triste patriarcado
Somas de outras violências
Também a tantas ocorre
e múltiplos feminismos
da experiência decorrem
movimentos específicos
pelas mulheres incorrem
A lei a todas socorre
ou devia socorrer
a questão é que os entraves
culturais que a gente vê
atrasam essas demandas
do que a lei nos prevê
Quando se é negra ou indígena
Mulher cigana, ou sem teto,
vinda de comunidade,
tratada como objeto,
mulher lésbica ou trans,
algo fora dos padrões
do normativo espectro
O Estado também promove
violência contra a gente
a violência obstétrica
é um assunto presente
coerção policial
e a violência estatal
vem até do presidente
Quando a gente elege alguém
que exerce a misoginia
que tem o ódio as mulheres
de uma forma doentia
é provável que nos queiram
tirar direitos um dia
E é fato esse bilhete
tem exemplos por aqui
quando a extrema direita
passou a nos presidir
sempre querendo criar
formas de nos deletar
modos de nos destruir
"Jogo das identidades"
por lá é utilizado
mulheres anti-mulheres
são fantoches do Estado
e umas ministras sinistras
a enganar nossas vistas
são braços manipulados
São necessárias políticas
Que empoderem de fato
Que estejamos em cena
criando o nosso ato
Que possamos ocupar
Aqui e todo lugar
Sem veto nem desacato
A Lei Maria da Penha
foi uma grande conquista
mulher que quase foi morta
que se tornou ativista
pela vida das mulheres
por força que nos assista
Outras tantas são exemplos
Das lutas cotidianas
E as heroínas da pátria
Titulações soberanas
Dão luz à grandes mulheres
De lutas que se irmanam
Professoras, cientistas,
Compositoras, arteiras
Obstetras e parteiras
Mães, guerreiras e artistas
Tantas das vezes mal vistas
Queriam elas caladas
Com sua força ofuscada
Mas foram protagonistas
Na poesia de cordel
Contei de modo geral
O que limita as mulheres
E a raiz desse mal
Que a gente possa lograr
De um tempo mais igual
domingo, 12 de dezembro de 2021
ancestrais de escamas?
As ancestrais gigantes me encontram
Renascer-me em cada fênix
Soltando os molambos
Muambas magicas pra enganar a morte
A tristeza do esquecimento
Mente que vagueia parece chegar
Os pés quase descalsos
De quem vibra em circundar abismos
Algo vivaz
Uma vontade de queimar
De ser cavalo livre
Onde, misteriosamente, as pedras
resgardam um cão sem plumas
Animal tão misto
Quase sagrado
Na pureza e sorte dos loucos, do encantados
Na experiência dos que comeram pedras
Pra ajudar a digerir os olhos
enviesados da civilização
Deus hoje proteje os que sonham?
Exu tamborila aboios
No latão do meio fio
Virando fumaça
Nas encruzilhadas
Ei os de amor
Algo de bonito
nesse passarinho dinossauro
Acheopterix da matriz
"Da simultaneidade de mundos"
Com diria mãe Aparecida de Oxum
sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
chuva chamamento
Era a chuva
parecia ouvir meu nome nas telhas
Descendo pelo metal das grades
Escorrendo na relva
Sugada pela terra
Tempos alucinados em que me ouvia na chuva
Em que a chuva falava na voz dos demônios
Em que os espíritos me acordavam no meio da noite
Na voz dos parentes, na voz dos mortos
A voz da chuva chia como um miado de areia
Quando nos permitimos a paz molhada
e os escombros não nos ferem a alma
rasgando o linho
Ainda existe voz na chama
da voz amarela de Oxum
Tilintando os latões das calhas
entre espelhos de Orixá
Arrasta as folhas,
Abre sulcos
Lava
É mestra em amolecer durezas
penetrar certezas
Esborrar represas
É na voz da chuva
Que a sabedoria goteja
Fresquinha
No tempo morno
E evapora
Na sorte de um vôo
Suga pro centro da Terra
Voa no calor do milagre
Na sabedoria da chuva
A planta se enlaça
É cipó
No mini mistério da fruta doce
Do dia magma
Na sabedoria da chuva
Que se faz mormaço
Que mãe diz que adoece
Água que aquece
Peito morno vento
Chama calma,
sexta-feira, 19 de março de 2021
enquanto não chega o mote a gente vai só sentindo
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021
fora da caixa
Dentro da caixa
Ainda tento em vão
Me encaixar
Não acho o bloco
Que liberte
Guardo tudo
Na caixa
de brinquedos
Ainda em vão
Tento ter lugar
Ser aceita, ser perfeita,
E encantar...
A receita falha
Falta aquele sal
O sentido especial
tão discreto
que perceba
e não comente
Falho novamente
Salto da caixa
Brinquedo estranho
Feito um arremedo
Não me acanho
Fora do rebanho
sexta-feira, 27 de novembro de 2020
Saudade triste
sábado, 8 de agosto de 2020
o sonho de uma poeta no mundo pós pandemia
enlevo meu pensamento
ultrapassando o cimento
substancio o cantar
E o futuro, qual será
é a questão do presente
quê plantio é consciente
quê semente vai vingar
Busco conselho lunar
tento no caos esse alento
tudo passa feito vento
isso também passará
É mister profetizar
esse porvir que impera
ouvindo a voz do que era
partindo à um não-lugar
achando esse imaginar
ato de ver e criar
antever quadros que pintam
e espelhos que reflitam
moroso pestanejar
memórias à velejar
esse aqui que é além
imaginando o que vem
na esperança de chegar
Vejo um futuro ideal
pós a peste, a bonança
podem correr as crianças
não há doença que reste
foi-se pra lá todo o mal
E o hiato abissal
que no passado cabia
parece que não se via
desavessou-se o umbral
Para cada índio morto
nasceram muitos por vez
e pra cada não-índio torto
sumiram-se suas rês
A fauna reentendida
a natureza louvada
nós, bichos, nos entendemos
a Terra é nossa morada
E essa mãe que nos une
refez nossa caminhada
Aquela febre fornalha
que a gente alimentava
com água e álcool, baixamos
menos gazes para os planos
mais externos da esfera
Aprendemos a espera
nossa agonia acalmou
e aquele aquecimento
parece, solucionou
Sabem os povos quilombolas
remanescentes de lá
ainda estão por cá
não conseguiram tirar
da resistência esse povo
quanto a isso também louvo
pois só o bem vou louvar
E todas as lideranças
que foram assassinadas
contam, na pós-pandemia,
voltaram reencarnadas
e que com meses de vida
já se erguem bem animadas
Os que teceram maldades
melhor não citar nenhum
contam que passou um vento
que tinha odor de pum
de um palhaço gigante
que tinha feito jejum
Levou todos pelos ares
sendo o palhaço gigante
o vento também foi grande
foram parar em Antares
Sabe a soja, evoluiu
dizem ‘destrangenicou’
voltou a ser só semente
nas mãos do agricultor
virou somente "crioula"
viçosa, cheia de amor
O gado ficou selvagem
esse causou muito dano
em manadas se juntou
não quis mais o trato humano
quis ser livre e viver
sem curral, cabresto, ou dono
Messias não teve mais
no mundo pós-pandemia
nem corona, nem coroa
De falsos Reis ou rainhas
mais dessas coisas todinhas
Cada qual na consciência
ligades com o total
sabides, conectades
à um presente real
vivem em tons mais anárquicos
em contexto mais igual
O mundo pós-pandemia
é feito São Saruê
dizem que é muito bonito
gostoso da gente ver
tem artistas e poetas
pelas ruas bicicletas
já reportou a TV
E a TV que é aberta,
pública, democratizada
não publicita igrejas
e nem elege furadas
sem concessões concedidas
por troca indiscriminada
Se é verdadeiro esse mundo
que acabo de escrever
só descrevo o que vi
e aos outros faço saber
que todos possam chegar
e esse presente viver
Nada que disse é mentira
não gosto de fake News
Foi a tal notícia falsa
que desgraçou o Brasil
Quanto a isso tome nota
que cá na pós-pandemia
vem primeiro a saúde
depois a economia
na comunhão das fortunas
vivendo o dia a dia
agradeço às presidentes
pois cá na pós-pandemia
já tem outrxs diferentes
tá tudo muito mudado
cada Nação forte igual
e a nossa nova bandeira
já é plurinacional
cada povo é respeitado
tendo por lema o cuidado
a comunhão é geral
que o futuro é melhor
vão poder sair das casas
do amargoso jiló
da saudade dolorosa
e dar abraço quisó
foi luta desde o passado
desde de que principiou
aqui, agora, presente...
semente que prosperou!
quinta-feira, 6 de agosto de 2020
a gente segue criando
terça-feira, 7 de julho de 2020
Nuvem
sexta-feira, 5 de junho de 2020
poema pernanbucano
segunda-feira, 4 de maio de 2020
imagem
Já viu um dia a sua imagem
Correndo livre muito longe (repete)
Será que morte ou só passagem
Será que sonho, ou só miragem
Será que você, correndo livre, muito longe
É desvario, alma que foge
Silêncio, rio, horizonte
Calor e frio, ou luz de norte
Será que vou ser
Força de esgarçante de Jaguar
Onça parente secular
Avó serpente estelar
Será que você
Corrente ou rio, trás dos montes
Meditações, fluxos, fontes
Renascimentos retumbantes
Será que voz ser
É Deuses Deusa universal
Estranha soma social
É coma, Roma, vírus, mal
Ou só o Sol seguindo e tal
Será que não ter
Já quer dizer algo melhor
É não ter medo, e não ser ser só
Um arremedo do amor
Será que vou ter
Que aprender a ser mais um
Parte de um todo, de um jejum
Um monge esquivo, um tao, um bum
Um blues, um negro, um buraco
Divina, ou china, um sobressalto
Morcego, rato, um substrato
Cabe num prato
Passe a colher
Limpe com álcool
Seja mulher
Será que você... (refrão)
nave-carroça
Um anjo torto, um querubim
Pelo dia amarelo
Na luz suspensa de um jardim
Uma rosa em giro
Um passarinho, um cantador
Sábio violeiro
Tocando as dores do amor
Vai o meu carro de vento
Na amplidão, sem ancorar
Um navio flutuante
Reinventando o alto mar
Sem prumo, sem leme
Roda gigante seu timão
Barco flutuante
O almirante o coração
Vai tapete encantado
Na retidão do horizonte
Flerta mil e uma noites
Mais uma história neste instante
Tem uma cidade
Um reino, um sitio, um castelo
Uma fortaleza,
Uma esperança, um paralelo
Vai carroça dissonante
Cavalo baio, pangaré
Um camelo, um elefante
Um bedoíno, andando à pé
Vai carro volante
Feito as folhas no cordel
Verso inconstante
Poesia solta sem papel
Vai a nave bicicleta
Monta na lua e leva alguem
Vem de longe como seta
Traz boa nova e neném
Grave e redonda
Som de uma outra estação
Pousa, aporta, planta
Um pensamento, um avião
Vai a casa num tornado
Tormento, bardo, um baião
Dança pelo céu nublado
Espera tempo, vôo balão
Sonha colorido
Caminho todo é esse aqui
Vai fica comigo
O que revoa não tem fim
Pelo céu afora vai...
domingo, 24 de novembro de 2019
poema tetríco
segunda-feira, 23 de setembro de 2019
Corpo e sopro
Corpo
Sem sopro
Arremedo
Carne
Sem pulso
Será sossego?
Do descanso da morte
Se tem medo
Quem sabe
Se vai tarde
Ou cedo
Na vida e na morte
Há quem meta o dedo
E quem desvende seu segredo?
Entra no trem
E deixa um agrado
No mundo da vida
A ida é personagem
Veste a viagem
Essa túnica final
Pro mundo da morte
A gente se despe
De toda auto-imagem
E solta as mãos
Da pele animal
A despedida é Una com a vida
E despe a lida
De qualquer verdade
De qualquer mentira
Do corpo
Casca
Descasca
Que não é pedra
Que não é pau
Mas como se fosse fica
Corpo coisa sólida
O que era
Água viva
Corpo sem sopro
Vira escremento
boneco sem vento
que vence
E fede
Sobe o sopro
Fica o corpo
Tronco oco
A ida leva o sopro
Gás que escapa
E aqui fica a capa
Das venturas, dos desventos
Das ilusôes, dos inventos
Desvenda
Escapa
Corpo fica vendido
Só o tempo compra
Essa última valsa
sexta-feira, 19 de julho de 2019
Veias da Terra
Quase nos tiram nós
de nós mesmas.
Quase...
Investigo-nas,
nós mesmas.
Minhas velhas,
nas minhas veias
Quando nos fizeram rivais?
Quando nos fizemos rivais?
Umas das outras...
Panteras contra lobas,
onças versos raposas,
vacas versos touras...
Em que lua deixamos de lunar? Reconhecer nossas avós, bisavós, tataravos?...
Em que data longínqua essa voz primeiro nos faltou, e ecoa esse nó na gola,
de espartilho no ventre?...
Quando nos perdemos no caminho?
Será que nos perdemos?
Em quais gestos nosso pulsar permanece, essa potência, nossa alquimia?
Eramos Amor e dançaram-nos
entre brasas.
Nos fizeram duvidar de nosso fogo,
nosso brilho, nossa luz.
Quiseram destruir nossas conexões
Nos ataram, nos atearam fogo
e nos dissolveram
Como fumaça, pranto da terra
Subimos às nuvens e desabamos.
Fomos nuvens e caimos,
retornamos
Lavadas e lavando
Lavandas, capins santas
lanceadas, cheirosas, embebidos...
Embebemos a terra de nossa força, das nossas águas...
Cimo partes, gotas dela, nos sabiamos
Somamos, somos, milhares, mulheres da materia mineral, gemas apedrejadas da terra, soma da mãe
No magma fervente nos encontramos
Vaporosas, depois vivazes e viçosas ... Criamos sobre as águas novas terras. Apesar da nossa dor, criamos
No encontro, nossas metamorfoses nos mostravam vária, aspectos da mesma.
E infinitamente vamos renascendo, remanescendo...
E dando as mãos
E Cada vez que cada mão de encontro acolhe a outra, leva,
e leve a roda firme flutua
Gira redemoinho de água
e mulher moída move
E renova
Encontro santo, somos ela,
fêmea velha
Carnes, pelos, ossos,
A morta que sempre revive...
Seios, sêlos, elos, sangues.
Energia vermelha
que lava e adentra terra,
Rama, rio, veia.
Velha viva que nos remoça,
Sábia velha que nos encanta
E a cantamos assobios
Que nos faz sábias e sabiás
terça-feira, 16 de abril de 2019
Voz
No dia da voz
ensaiamos
muitas conversas
Experimentamos
olhares, gestos, gemidos
Balbúcias, risos,
tons sortidos,
Silabas, besouros,
cantos destemidos...
Na noite da voz,
Há voz
E na calada da noite
ela descansa
Entre os santos, sonhos,
meio mansa
O mar ondulante avança,
ululante remansa
no verso da criança...
barco, cria , dança
Mareja outr bom tempo
domingo, 14 de abril de 2019
Minha vida na feira livre
Há cada verso falso
Palavra chula
Devo silenciar
Não um silêncio falso
Não um silêncio chulo
Mas um silêncio inteiro
Mergulho
pela metade
Neste incômodo
refrão que algo liberta
quando observo
letra aberta
O conteúdo desendereça
A intenção desinteressa
O sentido devo observar
E respirar calada
a letra perdida
Me encontrar nela,
compreendê-la
Liberá-la,
não sê-la
Aquela
que incomoda
Na resignação verdadeira
Conversar com portas
Com miolos de pote
Com arvoredos
Com canecas de chá
Com crianças que ainda não falam
A linguagem normal nos limita
Com suas formas omissas
Com suas normas, premissas
Não houvesse palavra chula
Verso ralo, macho o ó
A vida era melhor
segunda-feira, 8 de abril de 2019
Balão Branco
Relógio parado
Maçã distraída
Despedaça aos dentes
Do pecado sem perigo
Tripula o tempo, transita
Potência decola sementes
Terra pouso abrigo
O que medra morre
Ao medrar escorre
Ao correr decorre
O trigo que intriga
E cala a boca rama
Que vaia Roma
Contrario engole amor
E o silêncio devora as transgenias
Ávida nua se desola
Faz a maça de bola
E degola
O branco balão do pensamento
domingo, 3 de março de 2019
Bicho
És bicho rasteiro
Na posição da serpente
De repente muda
E és barca graúda
Na proa do mar
És minúsculo grilo
Com visíveis músculos
Abanando os pés
No mesmo lugar
Em sono acordado
Serena e se enrama
Pra tudo que é lado
Passeia na cama
Preparando o nado
Feito fio de rio
Sonhando pelado
Sem sofrer o frio
Bicho que contempla
Calado levanta
Trotando besouro
Lábio, voz, garganta
Canta, ave santa
Sem sequer falar
Reza o som do "m"
De mamãe e mar
No entoar sereio
Ondas e tritões
Sons universais
Mil religiões
Grita outros refrões
Perseguindo esferas
Tem flores nos lábios
Sábios, primaveras
terça-feira, 25 de dezembro de 2018
Vida real
Pequeno fluxo de ostra, ostra real
Teu toque desinteressado
Missa campal, de salto
Ex que olha esquisito
Vida brega com esmalte nude
Jovens pela praça
Brasileiros de graça
Pedindo canção
Amanhã peço socorro
Amanhã esqueço o pedido
Pastor de ovelhas
Cria de costas pra igreja
Corpo inflamado
Mama inflada inflamada
Mama mole
Mama de uso
Mama real
Vida vestida brega
A natureza chamando
Cabelo de fogo louro
Mate suco de manga
Boy metido a merda
Boy maconheiro
Marido é brega
Companheiro é massa
Pão é massa, mas me inflama
Açúcar da carência
Buceta costurada
Buceta real
Osta de pequeno fluxo
Ostra preciosa
Vida real
Ostra real
Vida-ostra real
segunda-feira, 10 de dezembro de 2018
Mar que se quer
Como quem não quer nada
O mar infiltra as construções
Em trêmulas contrações
Sua força
Janaína anuncia que chega
E silencia
Como quem não quer nada
Como quem nada quer
Nada onde está
O mar se aperta feito sardinha
Dentro de ventre se aninha
Na nave mãe
Como quem não quer nada
quer sair sozinho
Beber leite,
Tripular colo,
Aprender os planos
Caminhar solto
Como quem se quer
Rasgo
Rasgando...
Assim chegaram as crias
Uma, meticulosa,
quis que o rasgo fosse exato;
Outro, aberto,
Se sabia rasante.
Pleiteou um rasgo espontâneo.
Ambos me sangraram
Como sóis nas madrugadas
Ou luas novas em fins de tardes.
Sutis nem tanto
Serenos nem tanto,
Mas vindos da graça
das manhãs de Ñanderu.
Verde pedra no brilho do rio,
Neblina leve na areia do mar...
Cortando vento
As crias silveatres se chegam.
O vento nos guia
Em corpo terra
Casa curiosa de carinho
Corte, costura
e rasgo.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2018
Corujita
Minha corujita,
No alto, com brancas plumas
Fazendo ninhos nas grandes vigas
Entre as falhas da coberta
Fazendo telhas com os olhos de proteção
Cadê teu sonho no inverno
Teu verão real
Estamos no tempo de teu vôo
E o tempo é nosso linho
Aqui costuramos o veio
Saberes simples
Mãos na penugem
Afago no presente
Minha corujita me afaga
Ela é a melhor carícia
Corujita elétrica
Quando dorme encontra a água
Uma menina terra
Em tempo de corujita
Estala a língua
chão de lua
Bico de alimento
Tento espelhos nos teus olhos que me fogem
Mas no teu respiro encontro a paz, a verdade e a essência
Encontro nos meus olhos
mãe e coruja
sábado, 12 de agosto de 2017
Sidmar
que se usa e abusa
Comidas, cômodas,
temperas, temperos.
Adolescências e casais.
Família tamanha, tamanho família.
Manhãs e ciganos
Cafés, pias cheias, luas meias.
Tormenta de cães
Verdade imantada.
Vinhos, flores, luzes
Ação, consagração
Vida em alta definição.
Coisas que quebram e consertam
Caminhos que se cruzam
Na contra mão.
Desapego se aprendendo
Palhaça, palavra
Parole parangole
Filmes que não vi
Baixando aqui
Internet s
Sentido... que?
Silêncio
Orgânica
Organela
Organismo
Organização
Higienização
Desapego...
Quem somos? Que?!
Amoras. As infinitas amoras da estação. Da temporada. As roxas do verde, as roseadas azedinhas.
"Nomade" - com esses olhos so podes mesmo ser esse cigano, Sidmar.
Várzea
Recife
quarta-feira, 3 de maio de 2017
Lua gestante
Expurgar o que guardam peito e músculos.
Coração do mundo chove
Medo pede paz
Legítima raiva pede paz
Amor pede paz.
As chuvas da grande mãe consolam, acarinham, refazem
Nublado o olho do céu, adensa a atmosfera.
Pairam e revoam chorosas aves.
Resvalam.
A noite azul, marinho, cobalto.
Cristal de lua forte, oscilando,
Sumindo...
A lua olho
Espelho soma
Lua gesto
Algo restante
Alga, alma
Gestante.
Quarta feira, 13.04.2011 - Casa Forte, Recife
Noite agaloada
"Eu sou o céu para as suas tempestades. Rainha dos raios... tempo bom, tempo ruim" (Gil)
Noite vermelha
Rua alagada
Água marrom
Chocolate rio
Navegancia tremenda
Ganância de movimento.
Te aquietas pessoa
Lagoa que se põe
Na tua ilha há um q familiar
Tuas fotos nas paredes
Redes
(Navegancia tremendo)
O tesouro acordado...
O corpo barco
Bardo que pulsa e dorme.
Na tua ilha tudo nada e volta
Ao redor e aqui
Navegancia tremendo
Calor no sentido
Na turva ilha ilha libido
Barca na rua sonhada
Caminho de água
Rio vermelho telha
Marrom terra
Água chocolate
Entranhoso cocô
Noite alagada.
2 de maio de 2011, Várzea
( li essa poesia hoje e sincronicamete fazem 6 anos dela)
domingo, 24 de julho de 2016
Mãe diz
Mãe diz que ela vai correr
No mato verde de Ewá
Mãe diz que ela vai subir
Cavalo da guerreira Obá
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
quarta-feira, 9 de setembro de 2015
Carta ao Lobo Mal
quinta-feira, 9 de abril de 2015
sábado, 4 de abril de 2015
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
domingo, 23 de novembro de 2014
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
sereia ouriço
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
parto e filha
forte parte que une
partida
partilhada
compartida
barriga compartimento
sentir que religa
briga, consentimento
ressentimento e instiga
que compartilha
pequena ilha
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
escorpião
Quantas touras, morenas, louras, queres ferrar
Língua enrolada essa da poética enrroladinha
querendo rolar querendo rolar
Avoa avoa, passarinho
acha teu ninho no Amapá
Atoa atoa, coitadinho
buscando coito noutro lugar
Mil e uma as estrelas de Aldebarã luzindo
nos teus olhos perdidos
de ilusão constante
Mil e uma noites desperdiçadas
de fundida espada
Solidão cortante
Começou uma guerra fria
Guerra do fogo acabou
Gerando a luz de Luzia
Não devo tempo nem nó
Fadas queres segurar cintura
arrancar as asas na tortura
Abelhudo, zangão, afim de militar
em todo batalhão,
Em todo angar, afim de pousar
Não te culpo, lobo lupo
mamífero secular
a fim de mamar
a suma volúpia
noiva nova nupcia
de descaminhar
Vento volátil uivante
afim de amante
de cunho galante
de galo cantar
Mira tanta estrela, o escorpião
de constelação
Estuda tanta rota, que já não lhe enxota
o jovem ferrão
A fim de ferrar, a fim de ferrar
terça-feira, 29 de julho de 2014
revolta das fadas
Das aberrações descritas, monstros de dígitos
A transa, a tara, a panela de pressão
Toda essa literatura interna, escondida,
Cheia de palavra ruidosa pompando a erudição
Pra colher verde, pra colher maduro
Pra se sentir
Estais preenchido? Tua alma, teu umbigo?
O mal duro agora quer se expandir
Como teu peito pretende se abrir pra raiz
Como tua transa ensaia duas na madrugada do virtual
Assim engulo teu gozo como engolindo teus sapos
Guardo teus sapatos como guardas teus segredos
Com vergonha que me descubram te guardando
E fica na falha tua vitória entendida e disponível
E meu drama sem pra quê nessa altura do torneio, da tourada
Beirando poema bélico e pensando na palestina
sexta-feira, 25 de julho de 2014
dicionário de mãe ebulindo
vale de ovos
vivos ovos
maturando dentro
uivos, calos
meus cavalos
segurá-los
mastigando fenos
leites leites leites
humanos azeites
penas e deleites
gomas e unguentos
gentes gentes gentes
buliçosas gentes
novas e crescentes
procurando centros
chuvas e serenos
pejos obscenos
porcos lameados
natureza bruta
bolsa rota enxuta
xotas esgarçadas
...
domingo, 4 de agosto de 2013
tortuguita
espécie rara no corpo
lembrança viva se povoa o corpo
cada pessoa que funde casco
finda divisão e fica corpo
no sutil misturado corpo
plena amizade de tempo
finda morte e se infinita
alma mora na distância do piauí
junto do encontro amplo
distância sempre distrai
e o querer vira um detalhe besta
com cara de tortuguita marrom
e o bem querer, detalhe bom
é desapego secular
com cara de idoso zen